Quando o Facebook começou, a rede social era apenas uma maneira divertida de amigos compartilharem fotos, atualizarem status sobre suas vidas e interagirem diretamente uns com os outros. Mas hoje em dia, com tanta coisa acontecendo no mundo, essas postagens pessoais se transformaram em divulgações de artigos sobre visões políticas, informações a respeito do coronavírus, protestos e muito mais. A linha do tempo virou um grande feed de notícias. Contudo é importante perceber que nem todos os conteúdos lá publicados são confiáveis, mesmo que a pessoa que os divulgou seja conhecida ou até um ente querido seu.
Há uma diferença fundamental entre os sites de notícias tradicionais (pelo menos os bons) e as mídias sociais: a checagem dos fatos. Enquanto os meios de comunicação mais antigos e populares contam com uma equipe dedicada a validação dos dados que transmitem ao público, seu amigo da faculdade ou até mesmo aquele conhecido que tanto admira não tem o mesmo recurso. Na verdade, o Facebook recentemente excluiu centenas de milhares de postagens contendo informações incorretas e rotulou 40 milhões de publicações com avisos de que o conteúdo disponibilizado poderia ser falso.
O Facebook é mencionado especificamente aqui porque, de acordo com um estudo recente divulgado na revista científica Nature Human Behavior, ele espalha mais notícias falsas do que Google, Twitter e AOL. Este estudo aponta ainda que a rede social foi referência para artigos não confiáveis mais de 15% das vezes, em comparação com 3,3% para o Google e 1% para o Twitter.
Essa disseminação de desinformação se tornou um problema tão grande durante a pandemia que o próprio Facebook deu alguns passos sem precedentes para contê-la. Agora ele mostrará as pessoas que se envolveram com fake news e desmascarará essas afirmações com base em fatos publicados pela OMS. Para identificar essas mensagens falsas a rede utilizará tecnologia e revisão humana, tanto para remover contas quanto para verificar fatos terceirizados.
O Facebook também exibirá no feed um número menor de notícias e tomará medidas contra reincidentes, reduzindo sua distribuição e capacidade de anunciar se continuarem a espalhar informações incorretas.
Como você pode identificar fake news
Ainda assim, é muito difícil limpar totalmente um site de mídia social de fatos falsos e artigos enganosos, portanto, provavelmente nunca haverá um ponto em que você possa confiar completamente em tudo o que aparece por lá.
A rede de mobilização social global AVAAZ apontou recentemente que mais de 40% da desinformação relacionada ao coronavírus que encontrou no Facebook ainda estava no site, apesar da rede social ter sido notificada que essas eram postagens falsas. Portanto, cabe a nós, leitores, praticar o que os especialistas chamam de “higiene da informação”.
A higiene da informação se refere ao ato de filtrar e compartilhar conteúdos seletivamente em um esforço para impedir a disseminação de dados incorretos. Existem várias maneiras de praticar a higiene da informação, e a BBC recentemente compartilhou algumas ótimas dicas. Aqui está o que você precisa saber para se tornar um detetive de notícias falsas.
Cuidado com a ansiedade
Se leu algo que te deixou emotivo, não saia compartilhando a informação por aí. Primeiro verifique se a notícia é realmente verídica. Para avaliar os créditos factuais, principalmente em se tratando de conteúdos relacionados a COVID-19, utilize o site da Organização Mundial da Saúde (OMS) ou do Ministério da Saúde. Páginas respeitáveis nunca listarão fatos sem citar a fonte correta do dado.
Verifique sem parar
A postagem que recebeu vem de um site que você já conhece e costuma utilizar para se informar? A notícia parece sensacionalista ou realista? Fontes como o Grupo Estado e Folha sempre rotularão se o artigo é uma opinião do escritor e darão crédito a um especialista ao relatar um fato. Se o conteúdo que você vê online vem de um site do qual você nunca ouviu falar, clique para explorar o restante da página, principalmente a seção “Sobre”. Se algo parece errado, provavelmente está.
Olhe atentamente para logotipos e imagens
Hoje em dia é fácil fazer uma edição de um título e incluir o logotipo de uma agência de notícia respeitada, como a CNN Brasil por exemplo, ou utilizar a identidade visual de um site conhecido para espalhar informação falsa. Por isso, sempre verifique diretamente na página se o conteúdo está publicado lá. Se o artigo for difícil de encontrar, inclusive no Google, provavelmente é falso.
Fique de olho no fator ‘medo’
Essas são postagens que tendem a se tornar virais rapidamente na internet. Portanto se leu algo que te deixou assustado sem quaisquer fatos apresentados, saiba que você pode ter acabado de visualizar um artigo que foi especialmente produzido para incitar o medo. É importante compreender a intenção por trás da produção de conteúdo. Existem muitas organizações de caráter duvidoso que espalham boatos e criam notícias falsas em plataformas de mídia social para confundir as pessoas e incitar a raiva e o pânico.
Verifique mais de um ponto do artigo
Às vezes, conselhos imprecisos estão escondidos entre dicas úteis. Isso faz com que o leitor acredite que todas as informações da postagem são verdadeiras, levando assim a desinformação. Verificar cada um dos pontos do conteúdo é uma boa maneira de eliminar esse tipos de dúvida.
Só publique se tiver certeza
Finalmente, se você não sabe se algo é verdade, não passe a informação para frente. Compartilhar tem um efeito exponencial. Ao divulgar uma postagem em sua linha do tempo é bem capaz que pelo menos dois de seus amigos a republiquem. Mas isso não é tudo. Provavelmente outros dois colegas deles enviarão o conteúdo à sua rede de contatos e antes que você perceba centenas de pessoas podem estar sendo enganadas. O mesmo vale para o oposto. Ao evitar distribuir mensagens que investigou e considerou como possivelmente falsas, pode ter protegido diversas pessoas do mesmo destino.
A desinformação pode se espalhar como um vírus. Sabemos a importância de praticar a higienização das mãos para impedir a disseminação da COVID-19. Da mesma forma, é importante praticar a higiene da informação para impedir a disseminação das fake news.
Revisado clinicamente em Setembro de 2020.
Fontes:
National Public Radio. 05 de Dezembro de 2016. “Falso ou real? Como verificar notícias e obter os fatos.”
Politico.com. 16 de Abril de 2020. “Facebook avisará a milhões de usuários se viram “notícias falsas” sobre o coronavírus.”
CNN Business. 05 de Junho de 2020. “O Facebook começará a rotular páginas e postagens de mídia controladas pelo estado.”
Nature Human Behavior. 20 de Março de 2020. “Exposição a sites não confiáveis na eleição de 2016 nos EUA.”
Facebook.com. “Como o Facebook está lidando com as notícias falsas por meio de verificadores de fatos independentes?”
BBC Trending. 20 de Abril de 2020. “Coronavírus: veja como você pode impedir que informações falsas se tornem virais.”
Freedom Forum Institute. “Guia rápido para saber se uma notícia é falsa.”
The New York Times. 10 de Março de 2020. “Rússia tenta alimentar as tensões raciais dos EUA antes das eleições com notícias falsas, dizem autoridades.”